Por
que ética?
Por que ética? E o que é ética? Não poderemos
nos contentar com uma representação qualquer ou indeterminada. Da mesma forma,
pressupondo uma pré-compreensão completamente indeterminada, desde o início
podemos nos perguntar: por que afinal devemos nos ocupar com a ética? Na
filosofia, mas também nos curricula
das escolas, a ética parece ser um fenômeno da moda. Entre os jovens
intelectuais, antigamente havia interesse mais pelas assim chamadas teorias
críticas da sociedade. Ao contrário disto, na ética supõe-se uma reflexão sobre
valores reduzida ao individual e ao inter-humano. E tem-se que aqui contudo não
seria impossível encontrar nada de obrigatório, a não ser remontando-se a
tradições cristãs ou de outras religiões. É o ético, ou então, ao contrário, as
relações de poder, que são determinantes na vida social? E estas não
determinam, por sua vez, as representações éticas de um tempo? E se isto é
assim, ao se pretender lidar diretamente com a ética e não a partir de uma
perspectiva de crítica da ideologia, não representaria isto um retorno a uma
ingenuidade hoje insustentável?
Por outro lado, não podemos desconsiderar
que, tanto no âmbito das relações humanas quanto no político, constantemente
julgamos de forma moral. No que diz respeito às relações humanas, basta
observar que um grande espaço nas discussões entre amigos, na família ou no
trabalho abrangem aqueles sentimentos que pressupõe juízos morais: rancor e
indignação, sentimento de culpa e de vergonha. Também no domínio político
julga-se moralmente de forma contínua, e valeria a pena considerar que
aparência teria uma disputa política não conduzida pelo menos por categorias
morais. O lugar de destaque que os conceitos de democracia e de direitos
humanos assumiram nas discussões políticas atuais também é, mesmo que não
exclusivamente, de caráter moral. A discussão sobre a justiça social, seja em
âmbito nacional ou mundial, é também uma discussão moral. Quem rejeita a
reivindicação de um certo conceito de justiça, quase nem o pode fazer sem
contrapor-lhe um outro conceito de justiça. Em verdade as relações de poder de
fato são determinantes, mas é digno de nota que elas necessitam do revestimento
moral.
Por fim, existe uma série de discussões
políticas relativas aos direitos de grupos particulares ou marginalizados, as
quais devem ser vistas como questões puramente
morais: a questão acerca de uma lei de imigração limitada ou ilimitada, a
questão do asilo, os direitos dos estrangeiros, a questão sobre se e em que
medida nos deve ser permitida ou proibida a eutanásia, e o aborto; os direitos
dos deficientes; a questão de se também temos obrigações morais perante os
animais, e quais. Acrescentam-se aqui as questões da ecologia e da nossa
responsabilidade moral para com as gerações que nos sucederão. Uma nova
dimensão moralmente desconcertante é a da tecnologia genética.
O complexo das questões acima mencionado diz
respeito a estados de coisas que em parte são novos (por exemplo, a tecnologia
genética), e em parte alcançaram, através do avanço tecnológico, um lugar de
destaque até agora não existente (por exemplo, a responsabilidade para com as
gerações futuras, e algumas questões da eutanásia). Outras já estavam desde
antigamente presentes, mas encontram-se fortemente colocadas na consciência
geral – e podemos nos perguntar por que - por exemplo, problemas das minorias, aborto,
animais.
Não se encontra aqui pelo menos uma das razões pelas
quais a ética novamente é tomada de forma importante? A maioria das éticas
antigas – por exemplo, as kantianas – tinham em vista apenas aquelas normas que
desempenhavam um papel na vida intersubjetiva de adultos contemporâneos e
situados em uma proximidade espaço-temporal; e de repente sentimo-nos
desorientados em confronto com, por exemplo, os problemas do aborto, da pobreza
no mundo, das próximas gerações ou da tecnologia genética.
UGHENDHAT, Ernest. Lições sobre ética. Petrópolis:
vozes, 1996. P. 11-13.
Questões
1)
O
autor refere-se ao grande espaço reservado aos temas éticos nas discussões com
nossos amigos. Você poderia fazer uma lista desses temas? Em seguida, escolha
um deles e posicione-se.
2)
O
sentimento de indignação ou de vergonha indica que participamos de uma
comunidade moral. Dê um exemplo e explique por quê.
3)
Qual
é a relação entre política e ética? A partir dessa relação, destaque a questão
da justiça como um dos temas centrais da ética.
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